Itabira às vezes pode ser uma cidade dura. O seu histórico minerador e o seu ar incrustrado de minério talvez deixem as pessoas desta terra um pouco mais calejadas, com um jeito de ser bastante peculiar – férreo. Mas por trás dessa aparência se esconde uma veia sapeca, foliã que imprime um desejo ferrenho de o itabirano festejar. Nos últimos anos, essa malemolência voltou a ter um representante a altura de nossa história carnavalesca: o bloco “Madalena não Gosta de Poema”.
Embalada pelas tradicionais marchinhas e temperada com o frevo pernambucano, o bloco se prepara para o seu terceiro cortejo. Em 2016, após um período de maturação do projeto, a Madalena coloriu as ruas dos bairros Centro e Pará de amarelo e roxo – suas tinturas próprias – e deu aquele gostinho de Carnaval de rua que estava tão escasso por essas bandas. Agora, em 2018, o bloco volta às ruas no dia 27 de janeiro, às 13h, com concentração na praça do Centenário, na região central. E neste ano, o desfile momesco conta com uma novidade: um boneco de Olinda de quase 4 metros representando a madrinha do bloco, a Madalena, e que irá guiar os foliões pelas ruas itabiranas.
“Acho que as forças mais importantes que impulsionam os organizadores do Madalena são o amor e o respeito a Itabira e ao Carnaval. Uma energia carnavalesca que se renova a cada ano. E a ideia foi: por que não criar um bloco aqui em Itabira, nas ruas antigas de nossa cidade? O bloco foi criado em uma época cultural muito ruim e herdou essa força de fazer e não esperar! Unir forças e iniciar uma movimentação cultural. Misturar algumas formas e culturas de brincar o Carnaval”, reflete Hebert Rosa, idealizador do Madalena não Gosta de Poema.
Antes de se afirmar como um bloco carnavalesco, a Madalena era um ponto de encontro para amigos. Mas não desses pontos de encontros tradicionais, rígidos e comuns. Madalena, em um conceito físico, é um carrinho com uma caixa de isopor que se posiciona nos locais mais festivos de Itabira – e, à sua volta, sempre uma roda de boa prosa. Foi desses encontros que partiu a ideia de colocar um bloco na rua.
“A proposta inicial era colocar o bloco na rua. Itabira precisava respirar um novo momento carnavalesco, novas atitudes, fazer uma prévia carnavalesca e resgatar uma cultura que já existiu na cidade. Carnaval é arte, doação e amor! Uma grande aventura e uma cachaça mineira gostosa! A Madalena nasceu com um conceito e características de blocos tradicionais e adotou a marchinha e o frevo como as suas músicas para abrir o Carnaval local”, conta Hebert Rosa.
O bloco Madalena não Gosta de Poema contribui de maneira determinante para o resgate do Carnaval itabirano. Durante muito tempo, Itabira manteve uma programação bastante interessante para a folia momesca: desde bailes em clubes até a folia nas ruas. Dessa época, restaram algumas iniciativas como as festas nos bairros Campestre e Pará. Porém, ações como esse cortejo trazem frescor para a folia local.
Para reforçar essa ligação com a história itabirana, a Madalena, em seus cortejos anuais, homenageia figuras importantes para a cultura local. Neste ano, o homenageado é o Nilo, um dos mais tradicionais e celebrados donos de bar da cidade. O saudoso Bar do Nilo foi palco para muitas histórias que, hoje, moram no imaginário itabirano. Foi lá que muitos descobriram os prazeres da vida boêmia e tiveram contato com parte da história cultural de Itabira.
É com esse espírito momesco que a Madalena ganhará as ruas de Itabira no próximo sábado para trazer um pouco mais de dança, folia e sabor para essa terra dura. Mas, antes de pular o Carnaval, não se esqueça de que cultura não se faz com rigor, mas com criatividade e, também, irreverência. “Itabira é uma cidade privilegiada por ser berço do mais reconhecido poeta brasileiro [Carlos Drummond de Andrade] e precisa de mais. O Carnaval é a festa da quebra e da irreverência! Madalena estudou em Itabira e conhece tudo de poesia, outro dia na feira ela falou que de poesia já está bom”, reflete Hebert Rosa.
SERVIÇO
Cortejo do bloco carnavalesco Madalena não Gosta de Poema
Data e horário: sábado, 11 de fevereiro, às 15h
Local: Concentração na praça do Centenário, Centro, Itabira, Minas Gerais
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