Embora o folk tenha uma relação forte com a música popular americana, o ritmo é muito mais abrangente do que parece. O termo é uma referência à cultura musical folclórica, que se utiliza de elementos múltiplos para criar uma identidade de um povo ou sociedade. Unindo esta ideia à MPB, uma gama de novos artistas brasileiros ajudam a criar uma identidade única e contemporânea para um estilo musical tido como tradicionalista.
É o caso do Feito Café, grupo baseado em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, que utiliza alguns desses elementos em suas canções. A primeira delas, que batiza a banda, ganhou recentemente um videoclipe que explora o potencial imagético da composição. Elementos como um rádio ligado, um coador de café e uma música em voz e violão evocam a simplicidade e a poética do estilo – apenas uma de suas muitas características.
Escute aqui o som do grupo Feito Café
Definir o que é folk se torna cada vez mais desafiador. Enquanto músicas tradicionais ou mesmo trovas – muitas vezes compostas antes do surgimento do termo, no século XX -, se mesclam a nomes como Bob Dylan, o folk moderno já traz influências do indie rock e do pop. É o caso de artistas como Mumford & Sons, The Lumineers e Jake Bugg, que ganharam força nos últimos anos.
No Brasil, não é diferente. No cenário independente, o Feito Café está em boa companhia. O cantor e compositor capixaba Novo divulga o EP de estreia “Lá e Cá”. O trabalho é guiado pela experimentação, em que músico e violão se unem em uma relação de cumplicidade.

Realizado no espírito do do-it-yourself, o EP “Lá e Cá” é fruto do tempo que Rodrigo Novo morou em Londres. Músico há alguns anos, ele sempre tocou em bandas, normalmente como guitarrista. Ao mudar-se para a Europa, Novo acabou se distanciando dos colegas de profissão – porém não da música em si. “Percebi que iria ficar fora e comprei um violão usado para me fazer companhia. E foi assim que comecei a perceber uma vontade de escrever canções, que foram nascendo assim: da voz e violão”, relembra.
Escute aqui o som do músico Rodrigo Novo
Como dizia o poeta, quem anda com um violão não anda só. Foi na volta para o Brasil que o músico sentiu vontade de gravar suas composições e ver como soariam. E decidiu fazer isso com a sua identidade, bem devagarinho, obedecendo uma proposta diferente das bandas em que já tocou e trazendo uma grande experimentação. Um exemplo do clima do EP é a faixa-título, que versa sobre saudade e nostalgia, na linguagem de um viajante que percorre caminhos objetivando o crescimento pessoal e o amadurecimento. A melodia traz uma linha minimalista, com um singelo slide de guitarra.
Já no pequeno município de Bragança Paulista, dois amigos começam a compartilhar o gosto pela música brasileira ainda nos tempos do ensino médio. Mas foi somente após a universidade que Pedro Rui Von e Denis Cruz uniram forças para montar o sonhado projeto musical. A “cidade poesia”, como é conhecida Bragança, ganha a partir dali, mais um nome em seu cenário musical: os Devonts.

Devonts é um duo com identidade própria. Por meio do folk tradicional, os músicos unem outros gêneros da música contemporânea e regional brasileira, transportando originalidade a cada acorde. Formado no interior de São Paulo por Pedro Rui Von (voz, violões e gaita) e Denis Cruz (voz, bateria e percussão), eles também expressam nas letras reflexões sobre questões sociais, de forma descontraída e sutil. Isso pode ser visto nos dois compactos já lançados, “Renovação” (2014) e “Veias Abertas” (2016), além do primeiro disco da dupla “Alguns Anos Daqui”.
Escute aqui o som dos Devonts
Desde o início, o duo investe toda a energia em cima das composições e arranjos. Primeiramente, os vocais cheios de sintonia e o formato visual único traz uma sonoridade intensa e orgânica, assim como nas principais influências dos músicos, como Simon & Garfunkel, Sá Rodrix & Guarabyra e Mumford & Sons. Em segundo, a mistura de instrumentos – violão, gaita e percussão – revela a riqueza rítmica da cultura popular do Brasil com elementos do pop, junto com as letras questionadoras cheias de perspectivas.
A esperança em um futuro melhor é tema do disco de estreia. O primeiro trabalho de longa duração, “Alguns Anos Daqui”, traz a união das inspirações como o folk rock da década de 60 e ritmos brasileiros, misturando baião com rock n’ roll, violão erudito com zabumba e gaita. Essa originalidade rendeu canções que trazem reflexão sobre o tempo que vivemos e o que podemos aprender com ele.
Embora Devonts, Feito Café e Novo apresentem identidades bastante diferentes em seus trabalhos, os três projetos são exemplos da versatilidade da música brasileira independente, que mescla uma gama de ritmos à nossa identidade musical, transformando em algo completamente único.

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