Montanhas, matas, flores, rios, animais silvestres e vilarejos isolados… esses são alguns dos elementos que permeiam a história de Bernardo Puhler. Um conjunto de paisagens que encantam os olhos e alimentam a alma – e são traduzidas por meio de acordes, melodias e versos para contar (e cantar) um pouco das belezas da Serra do Espinhaço, um conjunto de montanhas que corta Minas Gerais e Bahia.
Nascido no Espinhaço, Bernardo Puhler conheceu os encantos da serra desde muito cedo, quando se dedicou a percorrer seus caminhos, trilhas e travessias – rotina que até hoje mantém em sua vida. As diversas experiências encontradas ali acabaram por se tornar o alimento para o violão, piano, viola caipira, acordeão e flauta, instrumentos que acompanham o músico.
Mais do que inspiração para letras e canções, a Serra do Espinhaço se tornou nome para Bernardo, que acrescentou o Espinhaço ao seu nome artístico. Um pouco dessa curiosa história é contada no bate-papo que tive com Bernardo do Espinhaço. Confira nos parágrafos a seguir:
Trem das Gerais: Como surgiu o seu interesse pela música? E quando deu início à sua carreira profissional como músico?
Bernardo do Espinhaço: A coisa começou muito por conta da minha mãe que é pianista. Com cinco anos ou algo assim eu já estudava esse instrumento, e ele sempre estava disponível em casa ou na casa dos meus avós. Profissionalmente foi mais tarde, com 15 ou 16 anos comecei a tocar em bares, uns três anos depois entrava de corpo inteiro no autoral, onde estou desde então.
TG: Porque a escolha do nome artístico Bernardo do Espinhaço?
BE: Não surgiu de maneira premeditada, o que se passou foi que, talvez pela dificuldade de pronunciar meu sobrenome (Puhler), e também pela relação que tenho com esse lugar, as pessoas sempre se referiam a mim como “o Bernardo do Espinhaço”. Quando percebi que até mesmo gente das comunidades isoladas também havia adotado, achei que fazia sentido assumir isso.
TG: Qual a influência da Serra do Espinhaço na sua vida?
BE: O Espinhaço me impeliu ao mundo. E não sendo suficiente ter nascido ali, eu me sinto obrigado cotidianamente a recorrer aos seus cuidados para me acertar nas coisas da vida. Não sei imaginar uma vida sem as possibilidades que a Serra do Espinhaço me oferece.
TG: Qual a influência da Serra do Espinhaço na sua música?
BE: Até mesmo quando não me refiro ao contexto do Espinhaço as montanhas estão ali inseridas na maneira de ver o mundo e relatar as coisas. Também por isso meu processo criativo nunca é monotemático, nada me limita durante a criação, e ainda assim a relação com a montanha está quase sempre presente, quando não objetiva, de forma subjetiva.
TG: Você também é montanhista. Como essa prática contribui em seu processo criativo e na sua música?
BE: O montanhismo é o mecanismo de relação com a minha essência. Foi ele que me permitiu entender a amplitude de um lugar como o Espinhaço, ou a Mantiqueira, ou os Andes. Me ocorre agora que talvez sem o montanhismo tudo seria diferente e, talvez, até a decisão sobre compor para o Espinhaço.
TG: Como é o seu processo de criação?
BE: Não tenho regra, mas de uma maneira geral é sempre uma labuta braba (rsrs). Nunca me dou por vencido e sigo refazendo as coisas até chegar onde me parece justo. Do ponto de vista da técnica, a ordem é quase sempre música (harmonia, melodia, arranjo) e depois letra.
TG: Você integrou o grupo Músicas do Espinhaço. Como foi participar desse projeto?
BE: O Músicas do Espinhaço surgiu para atender uma demanda que existia de fazer shows com as canções que vinha compondo e já agradavam algum público. Como antes eu gravava praticamente todos os instrumentos, a ideia de levá-las ao palco era inviável de maneira solo.
TG: Porque encerrar esse ciclo com o Músicas do Espinhaço?
BE: A parada no Músicas do Espinhaço decorreu de um período turbulento da minha vida, decidi não mais fazer shows e voltar só à composição, também para me dedicar mais as travessias, que são as coisas que realmente me realizam.
TG: O que te levou seguir a sua carreira solo?
BE: Fiquei cerca de 2 anos sem me apresentar, e como o trabalho se restringia a composição e gravação de discos, era o melhor caminho no momento.
TG: Você tem dois álbuns lançados em sua carreira solo. Como você define o disco “O Alumbramento de um Guará Negro numa Noite Escura”, de 2014?
BE: O “Guará Negro” não pode ser entendido enquanto uma compilação de músicas. É uma história contada de maneira cronológica, onde cada canção denota um espaço geográfico e emocional. Todo o disco tem duplo sentido, servindo a contextos heterogêneos. É escuro, forte, denso e, de certa forma, triste.
TG: E como você define o álbum “Manhã Sã”, de 2015?
BE: O “Manhã” é mais solar e pensado, especialmente em sua primeira parte, para ser um disco para ser escutado na montanha. Talvez seja metade do disco para você caminhar na montanha e a outra metade para escutar na barraca de noite, antes de dormir.
TG: Quais são os seus próximos projetos?
BE: Em abril lanço o primeiro single do meu terceiro disco. É uma canção chamada “Supertramp (Só)”, inspirada na história do livro/filme “Into the Wild” [do escritor John Krakauer]. Depois, é provável que em maio lance outra [canção] e o disco inteiro em junho ou julho. Paralelo a isso estão acontecendo sondagens para apresentações, em especial agora, que acontecem as aberturas de temporadas de montanha no Brasil. Acredito que já em abril devo fazer algum show.
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