Há pouco foram comemorados os 113 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade. Tradicionalmente o dia 31 de outubro representa as homenagens à obra literária do escritor itabirano, mas, agora, a data também marca o Dia Nacional da Poesia. E foi por esses acasos do destino que em 2015 foram descobertos três novos poemas Drummondianos – justamente quando o Brasil celebrou, pela primeira vez, a poesia e o poeta em uma data unificada.
Mayra Fontebasso, aluna do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, é a responsável por resgatar três poemas de Drummond que, até então, estavam perdidos. O achado aconteceu quando a estudante fazia pesquisas para o seu projeto de iniciação científica. Os “novos” versos foram publicados em 1929, mas acredita-se que tenham sido escritos no início da década de 1920.
O projeto de Mayra Fontebasso se trata da análise de textos literários publicados pela revista “Raça”, que foi editada em São Carlos entre 1927 e 1934. O trabalho é orientado pelo professor Wilton José Marques. Ao se depararem com os textos, os acadêmicos definiram o estilo dos versos como prosa poética, com traços simbolistas e penumbristas, e com tom melancólico. Características marcantes da obra poética de Drummond em sua juventude.
Os pesquisadores, então, resolveram verificar se esses três poemas já haviam sido documentados. Fizeram consultas à “Bibliografia Comentada de Carlos Drummond de Andrade (1918 – 1934)”, elaborado por Fernando Py, e ao “Inventário Drummondiano”, da Fundação Casa Rui Barbosa. Mas em nenhuma das publicações constavam os “novos” textos. A confirmação de que as poesias eram inéditas só veio após uma análise de Antônio Carlos Secchin, crítico, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e especialista na obra de Drummond, que confirmou a importância da descoberta.
Depois de tantos anos, Drummond ainda segue surpreendendo a nós, leitores. E isso acontece devido à extensa produção literária do escritor, que agora ganha três novos integrantes que obrigarão Fernando Py e a Fundação Rui Barbosa a atualizarem os seus inventários sobre a obra do poeta itabirano. Mas isso, claro, não é trabalho, mas um verdadeiro presente para os amantes da poesia. E isso menos de um mês depois de celebramos o nascimento do poeta.
Leia um dos poemas encontrados em São Paulo:
O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica
Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina…
As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam…
As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada…
As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida…
Como é bela a volúpia inútil de teus dedos…