Olá, caros leitores, tudo bem com vocês? Na semana passada escrevemos sobre concordância nominal, item que frequentemente derruba os candidatos em provas e concursos. Pois bem, a coluna dessa semana mostrará dois exemplos que costumam derrubar os menos atentos: ordem dos termos e regras de acentuação.
No texto escrito, é importante observar a ordem dos termos na frase. Se na linguagem falada a entonação cria a ênfase necessária ao entendimento, na linguagem escrita a situação é diferente. É preciso empregar os recursos de ênfase e clareza próprios da escrita.
Então, vamos aos exemplos!
(1) “Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie de águas profundas, encontrado no norte de ilha Comprida, litoral sul de São Paulo; animal foi removido já morto por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises”.
(2) “Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, o formato das mamas sempre esteve submisso à ditadura da moda”.
No texto (1), uma legenda de foto, a construção “animal foi removido já morto por biólogos” convida à dupla interpretação. Por mais que o leitor deduza que o animal não foi morto pelos biólogos, o texto permite essa leitura, portanto é defeituoso. O que produz esse defeito é o fato de a expressão “por biólogos” vir depois de duas formas verbais, podendo estar ligada a qualquer uma delas (“removido por biólogos” ou “morto por biólogos”). A solução para o problema está na mudança de posição ou da expressão “por biólogos” ou de uma das formas verbais.
Se optássemos por aproximar “por biólogos” de “removido”, teríamos o seguinte: “animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto para análises”; ou algo parecido: “animal foi removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto”. O problema dessas duas construções é que ambas deixam o complemento mais curto (“já morto”) depois de um elemento muito longo (“removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza”), o que não favorece a clareza.
O melhor, portanto, seria antecipar a forma verbal “morto”, e modo que ficasse distante do agente da passiva (“por biólogos”). Assim: Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie que vive em águas profundas, encontrado no norte de Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo; já morto, animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises.
O segundo texto apresenta um defeito comum: uma expressão de caráter predicativo aparece antes do sujeito ao qual se refere e faz referência não ao núcleo do sujeito, mas ao complemento dele. Observe que a “parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade” não é o formato das mamas, mas as mamas propriamente ditas. Assim, “mamas” deveria ser o núcleo do sujeito.
Veja: “Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, as mamas sempre tiveram seu formato submisso à ditadura da moda”. Do ponto de vista da concordância, o texto acima está correto, pois “as mamas” são uma parte do corpo. Não há, portanto, necessidade de plural (“partes”).
Fieis e fiéis
Muita gente ainda faz confusão na hora de pôr em prática as novas regras de acentuação e hifenização. E quem pensa que o corretor ortográfico dos computadores resolve todos os problemas está sujeito a decepções. A maioria dos redatores já aprendeu que ideia perdeu o acento, assim como geleia, plateia, estreia, diarreia, cefaleia e tantas outras palavras paroxítonas cuja sílaba tônica é um ditongo aberto.
É bom estar atento à regra: perderam o acento os ditongos abertos tônicos das paroxítonas, isto é, aqueles que aparecem na penúltima sílaba da palavra. É isso o que explica o fato de “heroico” se escrever sem acento e de “herói” manter o acento. “Heroico” é paroxítona, “herói” é oxítona.
Muito bem. O acento do ditongo aberto das oxítonas, bem como o dos monossílabos tônicos (céu, véu, réu), manteve-se. É por isso que continuam acentuadas palavras como lençóis, anzóis, anéis, pastéis, carretéis, papéis, fiéis, tonéis etc.
A confusão, todavia, é frequente, como se vê no trecho abaixo:
“… milicianos ainda fieis a Gbagbo”
Nenhum corretor eletrônico corrige esse erro. Por que será? É preciso observar que a forma “fieis”, sem acento, é uma das conjugações do verbo “fiar” (que vós fieis – presente do subjuntivo, segunda pessoa do plural) – por esse motivo, o corretor eletrônico não avisa quando alguém se esquece de pôr o acento. É preciso, portanto, ficar atento à regra gramatical e não deixar todo o trabalho para a máquina.
A construção correta seria a seguinte:
… milicianos ainda fiéis a Gbagbo
Esse problema ocorre também com “papéis” (substantivo) e “papeis” (verbo “papar”), “pastéis” (substantivo) e “pasteis” (verbo), entre outros casos.
Até semana que vem. Abraços!