Certas competências são obrigatórias para profissionais de qualquer área. O domínio do português é uma delas. Ainda assim, infrações à norma culta da língua são uma constante no mundo corporativo – e em qualquer nível hierárquico.
A alta frequência de erros reflete problemas na educação de base do brasileiro e a maioria das pessoas acaba ingressando no mercado de trabalho ou iniciando estudos para concursos públicos com muitas dúvidas. Além de deficiências na formação básica, a falta de familiaridade com a escrita também contribui para o problema.
Veja, a seguir, alguns erros de português muito comuns no mundo do trabalho. Alguns deles já foram publicados pela coluna, mas não custa repassar. Afinal de contas, o sucesso se deve, em parte, à insistência e à tenacidade.
“Em vez de” / “ao invés de”
Errado: Ao invés de elaborarmos um relatório, discutimos o assunto em reunião. Certo: Em vez de elaborarmos um relatório, discutimos o assunto em reunião. Por quê? Em vez de é usado como substituição. Ao invés de é usado como oposição. Ex: Subimos, ao invés de descer.
“Esquecer” / “Esquecer-se de”
Errado: Eu esqueci da reunião. Certo: Há duas formas: Eu me esqueci da reunião. Ou Eu esqueci a reunião. Por quê? O verbo esquecer só é usado com a preposição de (de – da – do) quando vier acompanhado de um pronome oblíquo (me, te, se, nos, vos).
“Faz” / “Fazem”
Errado: Fazem dois meses que trabalho nesta empresa. Certo: Faz dois meses que trabalho nesta empresa. Por quê? No sentido de tempo decorrido, o verbo “fazer” é impessoal, ou seja, só é usado no singular. Em outros sentidos, concorda com o sujeito. Ex: Eles fizeram um bom trabalho.
“Ao encontro de”/ “De encontro a”
Errado: Os diretores estão satisfeitos, porque a atitude do gestor veio de encontro ao que desejavam. Certo: Os diretores estão satisfeitos, porque a atitude do gestor veio ao encontro do que desejavam. Por quê? “Ao encontro de” dá ideia de harmonia e “De encontro a” dá ideia de oposição. No exemplo acima, os diretores só podem ficar satisfeitos se a atitude vier ao encontro do que desejam.
“Quite” / “quites”
Errado: O contribuinte está quites com a Receita Federal. Certo: O contribuinte está quite com a Receita Federal. Por quê? “Quite” deve concordar com o substantivo a que se refere.
“Media” / “Medeia”
Errado: Ele sempre media os debates. Certo: Ele sempre medeia os debates. Por quê? Há quatro verbos irregulares com final –iar: mediar, ansiar, incendiar e odiar. Todos se conjugam como “odiar”: medeio, anseio, incendeio e odeio.
“Através” / “por meio”
Errado: Os senadores sugerem que, através de lei complementar, os convênios sejam firmados com os estados. Certo: Os senadores sugerem que, por meio de lei complementar, os convênios sejam firmados com os estados. Por quê? Por meio significa “por intermédio”. Através de, por outro lado, expressa a ideia de atravessar. Ex: Olhava através da janela.
“A princípio” / “Em princípio”
Errado: Achamos, em princípio, que ele estava falando a verdade. Certo: Achamos, a princípio, que ele estava falando a verdade. Por quê? A princípio equivale a “no início”. Em princípio significa “em tese”. Ex: Em princípio, todo homem é igual perante a lei.
“Senão” / “Se não”
Errado: Nada fazia se não reclamar. Certo: Nada fazia senão reclamar. Por quê? Senão significa “a não ser”, “caso contrário”. Se não é usado nas orações subordinadas condicionais. Ex: Se não chover, poderemos sair.
“Visar” / “Visar a”
Errado: Ele visava o cargo de gerente. Certo: Ele visava ao cargo de gerente. Por quê? O verbo visar, no sentido de almejar, pede a preposição a. Obs: Quando anteceder um verbo, dispensa-se a preposição a. Ex: Elas visavam viajar para o exterior.
“Implicar” / “Implicar com” / “Implicar em”
Errado: O acidente implicou em várias vítimas. Certo: O acidente implicou várias vítimas. Por quê? No sentido de acarretar, o verbo implicar não admite preposição. No sentido de ter implicância, a preposição exigida é com. Quando se refere a comprometimento, deve-se usar a preposição em. Exs: Ele sempre implicava com os filhos. Ela implicou-se nos estudos e passou no concurso.
“Entre eu e você” / “Entre mim e você”
Errado: Não há nada entre eu e você, só amizade. Certo: Não há nada entre mim e você, só amizade. Por quê? Eu é pronome pessoal do caso reto e só pode ser usado na função de sujeito, ou seja, antes de um verbo no infinitivo, como no caso: “Não há nada entre eu pagar e você usufruir também.”
“Despercebido” / “Desapercebido”
Errado: As mudanças passaram desapercebidas. Certo: As mudanças passaram despercebidas. Por quê? Despercebido significa sem atenção. Desapercebido significa desprovido, desprevenido. Ex: Ele estava totalmente desapercebido de dinheiro.
“Chegar em” / “Chegar a”
Errado: Os atletas chegaram em Curitiba na noite passada. Certo: Os atletas chegaram a Curitiba na noite passada. Por quê? Verbos de movimento exigem a preposição a.
“Prefiro… Do que” / “Prefiro… A”
Errado: Prefiro carne branca do que carne vermelha. Certo: Prefiro carne branca a carne vermelha. Por quê? A regência do verbo preferir é a seguinte: “Preferir algo a alguma outra coisa.”
“Existe” / “Existem”
Errado: Existe muitos problemas nesta empresa. Certo: Existem muitos problemas nesta empresa. Por quê? O verbo existir admite plural, diferentemente do verbo haver, que é impessoal.
“Tão pouco” / “Tampouco”
Errado: Não compareceu ao trabalho, tão pouco justificou sua ausência. Certo: Não compareceu ao trabalho, tampouco justificou sua ausência. Por quê? Tampouco corresponde a “também não”, “nem sequer”. Tão pouco corresponde a “muito pouco”. Ex: Trabalhamos muito e ganhamos tão pouco”.
“A nível de” / “Em nível de”
Errado: A pesquisa será realizada a nível de direção. Certo: A pesquisa será realizada em nível de direção. Por quê? A expressão “Em nível de” deve ser usada quando se refere a “âmbito”. O uso de “a nível de” significa “à mesma altura”. Ex: Estava ao nível do mar.
“Na medida em que” / “À medida que”
Errado: É melhor comprar à vista à medida em os juros estão altos. Certo: É melhor comprar à vista na medida em que os juros estão altos. Por quê? Na medida em que equivale a “porque”. À medida que estabelece relação de proporção. Ex: O nível dos jogos melhora à medida que o time fica entrosado.
“Deu” / “Deram” tantas horas
Errado: Deu dez da noite e ele ainda não chegou. Certo: Deram dez da noite e ele ainda não chegou. Por quê? Os verbos dar, bater e soar concordam com as horas. Porém, se houver sujeito, deve-se fazer a concordância: “O sino bateu dez horas.”
“Descriminar” / “Discriminar”
Errado: Os produtos estão descriminados na nota fiscal. Certo: Os produtos estão discriminados na nota fiscal. Por quê? Discriminar significa separar, diferenciar. Descriminar significa absolver, inocentar. Ex: O juiz descriminou o jovem acusado.
“Acerca de” / “a cerca de”
Errado: Estavam discutindo a cerca de política. Certo: Estavam discutindo acerca de política. Por quê? Acerca de significa “a respeito de”. A cerca de indica aproximação. Ex: Eu trabalho a cerca de 5 km daqui.
“Meio-dia e meio” / “Meio-dia e meia”
Errado: Nesta empresa, o horário de almoço inicia ao meio-dia e meio. Certo: Nesta empresa, o horário de almoço inicia ao meio-dia e meia. Por quê? O correto é meio-dia e meia, pois o numeral fracionário concorda em gênero com a palavra hora.