Prezado leitor, tudo certo? Então, curtiu a coluna da semana passada? Como recebemos incentivo, continuaremos apontando erros e mostrando curiosidades sobre a língua portuguesa e “dando um toque” para você não errar mais ao empregar o idioma pátrio.
Perguntas interessantes! É verdade que o correto é “terraplenagem”? Existe “terraplanagem” ou devemos abolir o uso dessa grafia? Ortografia, como se sabe, corresponde ao conjunto de regras estabelecidas pela gramática para uma dada língua, que ensinam a grafia correta das palavras e a utilização dos sinais de pontuação.
No Caldas Aulete (um dos mais importantes dicionários de nossa Língua), o termo “terraplanagem” simplesmente não consta. Há apenas “terraplenagem”, substantivo feminino, que significa o ato ou o efeito de terraplenar.
O Houaiss expõe a origem do termo: forma histórica datada de 1877, provém de “terraplenar + -agem”. Corresponde ao conjunto das operações necessárias para se proceder a uma construção (edifício, estrada de ferro ou rodagem, fortificação etc.) e que, basicamente, consiste no desmonte e no transporte de terras no aterro. Apesar disso, o próprio Houaiss destaca: “terraplanagem” é a forma não preferencial de “terraplenagem”.
Vamos, agora, ao Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras: há o registro das duas formas – terraplenagem e terraplanagem.
Caro leitor, a fim de garantir outros posicionamentos bibliográficos, é possível encontrar o posicionamento do conhecido autor Sérgio Nogueira: “o certo é terraplenagem”.
Seguindo a linha do Houaiss, os dicionários da editora Porto e o Michaelis, apesar de registrarem “terraplanagem”, indicam a consulta de “terraplenagem”.
Em suma: a forma tradicional é realmente “terraplenar, terraplenagem”, com o uso do E, com o devido respeito à forma histórica do termo. Não é preciso chegar ao exagero de abolir “terraplanagem” (a forma mais usual no Brasil), até porque nosso Vocabulário Ortográfico registra o termo.
Qual o erro de português em: “bastam de tantos celulares”?
O verbo bastar, na condição de qualquer outro verbo pessoal, exige sim a concordância com o sujeito: “Como se não bastassem tantos telefones celulares, eles nem mesmo degustam a boa comida.”
No dia a dia, são frequentes os desvios de concordância quando “bastar” está anteposto ao sujeito. Vejamos abaixo:
- “Basta dois dias de folga para que eu descanse.”
- “Bastava novos investimentos na empresa.”
As expressões plurais “dois dias de folga” e “novos investimentos” são sujeitos plurais. Logo, a exigência do verbo no plural: BASTAM e BASTAVAM.
Apesar disso, a expressão “bastar de” (com a ideia de ser suficiente) é impessoal. Tem o valor de “chegar de”, e o verbo no singular é o adequado à norma gramatical. A fim de maior compreensão, não há um sujeito a ser referido, sendo o famoso caso de sujeito inexistente: “Chega de histórias! Basta de tantas promessas!”
Ademais, vale notar que “de histórias” e “de promessas” completam o verbo; não funcionam como sujeito. Fato também é que sujeito corresponde a uma função sintática desprovida de preposição (a não ser em casos raríssimos).
Há uma última regra com “bastar”: quando houver a concordância com o sujeito oracional, o verbo deve ficar no singular. Vejamos os exemplos abaixo:
- “Basta (eles) saberem os princípios constitucionais.”
- “Basta que eles saibam os princípios constitucionais.”
Retornando à frase: “Basta de tantos celulares!”
Você sabia?
A forma “abaixo-assinado” é diferente de “abaixo assinado”. O documento que se assina é um “abaixo-assinado”:
- “Todos pedem um abaixo-assinado contra o presidente.”
Por outro lado, quem assina o documento é um “abaixo assinado”:
- “O abaixo assinado, Silva Santos, discorda das diretrizes traçadas na última reunião, uma vez que…”
Até a próxima semana!