Prezado leitor, hoje mostrarei dois assuntos – um recorrente e que, vez ou outra, derruba candidatos desatentos ou pouco preparados quando a prova é sobre a Língua Portuguesa -, e outro não tão badalado, mas igualmente matador de candidatos.
Vamos a eles?
Você sabe quando o termo “que” deve ser obrigatoriamente acentuado graficamente? Uma norma gramatical a ser sempre lembrada: escrever “quê”, com acento circunflexo, é marcá-lo como monossílabo tônico em “e”, como nos monossílabos “dê, lê, sê”.
De maneira simples: quando vier no fim de frase, quando for classificado como nome substantivo ou interjeição, o termo “quê” deverá ser acentuado graficamente. Vejamos:
-
Pronome interrogativo, em fim de frase:
“Você está se referindo a quê?”
-
Interjeição de espanto ou protesto:
“Quê! Não pode ser.”
“Quê! Isso é intriga.”
-
Nome substantivo, partícula “quê” substantivada, pluralizável:
“É preciso pensar os quês e os porquês dessas ações do Governo.”
“Um quê de etéreo, de indefinido e vago derramavam […] seus olhares.”
Fagundes Varela
Há ainda uma curiosidade: o termo “quê” pode ser segundo elemento da locução adverbial intensificativa “como quê”. O acento circunflexo também demarcará a forma:
“É mentiroso como quê.”
“Matreiro como quê, engazopou meio mundo.”
Cientes dessa norma gramatical, conferimos que também a grafia “porquê” e “porquês” é também um nome substantivo:
“O Brasil é um lugar repleto de porquês ideológicos.”
Isolado ou ao fim de uma sentença, como o citado “quê”, a forma será grafada “por quê”:
“Por quê?”
“Ainda não assistiu à série, por quê?”
Muita gente erra ao conjugar o verbo incorrer. Sabe qual o jeito certo?
O verbo é transitivo indireto, ou seja, exige preposição. Ontem defrontei-me com o verbo INCORRER. A dúvida regencial estava em que tipo de preposição usar: “a”, “com”, “em”. Bendito seja o dicionário!
INCORRER é um verbo transitivo indireto, ou seja, exige sim a preposição (ferramenta linguística responsável por ligar dois constituintes da frase):
- Temia incorrer em algum pecado.
- A empresa incorrerá em multa, por sujar o rio.
O sentido do verbo remete a ficar compreendido, incluído ou implicado (gerando algo desagradável, ruim), como “incorrer numa multa ou nas penas da lei.”
Nos registros regenciais de nossa Língua, a regência direta (sem o verbo transitivo direto) foi encontrada até o século 18. Hoje é arcaica, não sendo recomendada a forma “Incorreste grave erro.”, mas sim “Incorreste em grave erro.”
Você conhece o termo incurso? O adjetivo relacionado ao verbo “incorrer” é incurso; significa “estar envolvido, comprometido, incluído”:
“Sousa vive incurso nas piores bandalheiras.”
“Estar incurso nas penas da lei.”
INCORRER EM?
Exato! Em acordo à regência do verbo, há a necessidade da preposição EM: incorrer em.
Uma recomendação, para o domínio do padrão, da norma, é treinar os aspectos regenciais também na Fala. Na dúvida, consulte e corrija-se, pois o ouvinte (a depender do meio em que você se comunica) será bastante observador.
Boa leitura e até a próxima semana!
Fonte: dicas do professor Diogo Arrais.