Prezado leitor, como o retorno que tive sobre esse assunto foi bom, continuo batendo na mesma tecla, ou seja, envio mais algumas dúvidas de ortografia e relações inusitadas entre palavras no português.
“Decidiu por deixar”: está certo o uso da preposição “por”?
Num documento oficial, encontrei o seguinte trecho: “…DECIDIU POR DEIXAR O HOLERITE A SETE CHAVES.”
Decidir provém de “decidere”. Essa forma latina remete a “cortar”, “separar cortando”, “despedaçar a golpes”. No dicionário regencial de Luft e no Houaiss, encontram-se diversas regências. Vejamos as principais:
Com o sentido de determinar, deliberar, resolver, o verbo pode ser transitivo direto ou transitivo indireto (com o uso de “de” ou “sobre”): “Decidir uma questão, um fato; Só os pais devem decidir sobre as questões entre filhos; O presidente decidirá do aumento dos funcionários.”
Com o sentido de dar decisão, emitir juízo ou opinião, sentenciar, o verbo também pode ser transitivo direto ou transitivo indireto (com o uso de “de”, “em”, “entre”): “Decidir um pleito; Cada povo decidirá da forma porque há-de se defender (Rui Freire); É um ignorante, e quer decidir no que não entende; É preciso decidir entre os dois candidatos.”
Exigindo as preposições “a” ou “por”, encontra-se o verbo decidir pronominal (decidir-se), com o sentido de dar preferência, optar: “O sindicato decidiu-se pela continuação da greve; Decidi-me a largar a cidade grande.”
Portanto o correto é: ”…decidiu-se por deixar o holerite a sete chaves.”
Dicas preciosas de português
O concurso público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já aconteceu, mas é uma excelente oportunidade para verificarmos “a quantas anda” o conhecimento sobre o português. A prova exige um bom conhecimento em Concordância e em Regência. Para facilitar, veja algumas importantes normas gramaticais.
Concordância
Quando o sujeito é representado por expressões como a maioria de, a maior parte de, grande parte de (e um nome no singular), o verbo concorda no singular ou no plural – a concordância é facultativa. Exemplo:
- “Grande parte dos candidatos acredita em mudança política.”
- “Grande parte dos candidatos acreditam em mudança política.”
Quando houver a voz passiva sintética (consequentemente haverá a partícula apassivadora -SE), o verbo concordará com o sujeito paciente. Exemplos:
- “Alugam-se casas.”
- “Compram-se móveis usados.”
- “Anunciam-se novas medidas econômicas no Brasil.”
Em contrapartida, quando houver o índice de indeterminação do sujeito (vale perceber objeto indireto, advérbio ou predicativo como complementação do verbo), o verbo sempre ficará no singular. Exemplos:
- “Precisa-se de vendedores bem-humorados.”
- “Trata-se de ações importantes.”
- “Sobre o palco, fala-se demais.”
- “É-se feliz nesta cidade.”
Quando não houver determinação no sujeito, o adjetivo será invariável. Exemplos:
- “É proibido entrada.”
- “Mudança é permitido.”
- “Dieta é bom para emagrecer.”
No entanto, quando houver a determinação, a concordância será obrigatória. Exemplos:
- “É proibida a entrada.”
- “A mudança é permitida.”
- “Aquela dieta é boa para emagrecer.”
Regência
Os verbos ANTIPATIZAR/SIMPATIZAR não são pronominais; exigem apenas a preposição “com“:
- “Simpatizo com todo o público daquele teatro.”
- “Antipatizo com toda pessoa ofensiva.”
É grave erro a construção “Simpatizo-me com… / Antipatizo-me com…”.
Além disso, lembre-se de que o verbo PREFERIR – normalmente transitivo direto e indireto – não é um verbo comparativo. Por isso, não são admitidas construções como “Prefiro mais…”, “Prefiro muito mais…”, “Prefiro mil vezes…” ou “Prefiro mais…”.
O uso correto, à visão da gramática tradicional, é com a preposição A:
- “Prefiro futebol a basquete.”
- “Prefiro ler romance a ler conto.”
- “Prefiro carboidrato a proteína.”