Prezado leitor, como foi seu fim de semana, tudo certo? Pois bem, a coluna desta semana apontará alguns erros graves em português que podem ser evitados com estudo ou prestando atenção aos textos.
Em relação à vírgula, que erro deixa os professores de português de cabelo em pé? O uso da vírgula em nossa Língua Portuguesa está diretamente ligada a questões sintáticas, referentes à organização da frase, da oração. Como afirma o estudioso Celso Pedro Luft: “Não vale consultar o ouvido: ouvido não entende de pontuação.” A princípio, lembremo-nos de que – na relação sujeito-verbo-complemento – não deve haver vírgula isolada. Vejamos:
- “A imprensa solicitou, cópias da gravação.” (vírgula inadequada entre verbo e complemento).
- “A imprensa, solicitou cópias da gravação.” (vírgula inadequada entre sujeito e verbo).
Vírgula e aposto
Vejamos agora estas duas sentenças:
- O escritor brasileiro Machado de Assis nasceu em 1839.
- O criador de Capitu, Machado de Assis, nasceu em 1839.
Por que as vírgulas estão apenas na segunda? Porque a informação entre esses sinais de pontuação é de ordem explicativa, a mais, uma informação adicional, intitulada gramaticalmente como aposto explicativo.
Pensemos assim também que a expressão Machado de Assis poderia ser retirada sem que houvesse alteração de sentido. Sintaticamente, as vírgulas expõem essa informação (já que o criador da personagem Capitu é apenas Machado).
Na primeira sentença, a supressão de “Machado de Assis” causaria mudança brusca no enunciado, uma vez que o nome do escritor é responsável pela restrição, especificação do sujeito. Expressões assim – especificativas – recebem a nomenclatura de aposto especificativo; não são sinalizadas por vírgulas.
Vírgula e vocativo
Vocativo, função sintática responsável pelo chamamento, convoca o virgular na estrutura escrita. Repare estes exemplos:
- Não é minha esposa?
- Não é, minha esposa?
Consegue entender a diferença entre eles, caro leitor? Na primeira, há uma indagação sobre ser ou não ser a esposa de alguém; na segunda, a “esposa” é chamada, invocada.
É isto: a vírgula (ou vírgulas) deve separar o vocativo, o chamamento:
- “Pai, afasta de mim este cálice!”
- “Afasta de mim, pai, este cálice!”
- “Afasta de mim este cálice, pai!”
Outro erro comum
Quando se trata de hora, surgem naturais dúvidas em relação à nossa Língua. Não são raros os registros “zero horas”, “são uma e meia”, “meio-dia e meio” etc.
Lembremo-nos de que a expressão “zero” remete apenas ao singular; “zero” é “nada”. Assim sendo: “zero hora”, “zero grau”, “é zero hora”. Causa friagem gramatical a frase: “No Sul, faz zero ‘graus’.” Nada disso! Faz zero grau!
Em se tratando de Gramática Normativa, o plural, em enumerações, só será obtido com números de “dois” em diante; com 1,5, por exemplo, a concordância exige apenas o singular. Sendo assim, pontualmente, é uma e meia; é meio-dia e meia.
Aqui, também, vale o breve estudo de números e determinações. Usando o mesmo raciocínio exposto acima:
- “No Brasil, 1%, infelizmente, acredita na paz.”
- “Na Argentina, 2% acreditam no plano econômico.”
Com determinante, no entanto, passa-se a observar a determinação:
- “No Brasil, 90% do público crê em estagnação econômica.”
No último exemplo, o verbo está no singular, em função de o determinante, “do público”, estar no singular.
Ah! Se houvesse o determinante no plural? Vejamos:
- “No Brasil, 90% das pessoas creem em estagnação econômica.”