Entre idas e vindas, um conchavo e outro e muita indignação, finalmente o processo de cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chegou ao fim. A decisão final não foi surpreendente, pois havia um clamor popular forte para que o peemedebista perdesse o seu cargo. Apesar de ter dado uma reposta à opinião pública, a cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados levanta algumas interrogações ao mesmo tempo que evidencia procedimentos padrões de nossa política.
Cunha foi jogado a certo isolamento político e a sessão que cassou o seu mandato evidenciou isso. Se em 2015 o peemedebista havia sido eleito presidente da Câmara dos Deputados com o apoio expressivo de 267 parlamentares, agora, no segundo semestre de 2016, somente dez deputados o apoiaram e votaram a seu favor – uma mudança de cenário considerável se levarmos em consideração toda a influência de Cunha na Casa.
Nem mesmo o “fatiamento” da votação foi permitida. A cassação do mandato era tida como certa pelos observadores políticos, assim, aliados do peemedebista tentaram dividir a votação – a exemplo do processo de impeachment de Dilma Roussef (PT) –, porém, a estratégia não surtiu efeito. Eduardo Cunha, então, não perdeu apenas o seu mandato, mas também os seus direitos políticos.
Diante do cenário dessa votação, podemos aferir que dez deputados não se importaram com as sérias denúncias das quais Cunha é acusado e optaram por manter o seu apoio. Apesar de preocupante, a população ao menos passa a ter uma visão mais clara das opiniões e posições políticas desses parlamentares. Além disso, a sessão teve 42 faltas e nove abstenções. Uma estratégia utilizada por alguns políticos para tentar preservar seus nomes durante um processo desgastante, mas, ao contrário disso, evidenciam a falta de coragem de se posicionar em um momento crítico para o país – um ato preocupante e vergonhoso.
Porém, os parlamentares que merecem mais atenção não são aqueles que votaram a favor de Cunha ou que preferiram se manter “em cima do muro”. Esses deixaram bem claro o que pensam. São os deputados que votaram pela cassação do peemedebista que precisam ser bem analisados. Muitos deles foram aliados e se beneficiaram das decisões e posicionamentos do Eduardo Cunha, mas escolheram pelo impeachment justamente para não ter o nome desgastado em um momento em que o país enfrenta uma enorme crise política.
Esse tipo de ação não remete a uma mudança de pensamento, mas sim uma tentativa de evitar maiores “dores de cabeça” com a opinião pública, que há algum tempo vem repudiando a manutenção de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados. Mais uma vez a classe política se esconde atrás de votos vazios e falsos pretextos em prol de interesses pessoais. Uma praxe histórica na cena política nacional.
Os resultados da cassação de Eduardo Cunha não se restringem apenas a uma análise da Câmara dos Deputados. Vai além disso. Depois de uma derrota acachapante, o peemedebista passa a ter um papel curioso no cenário político atual. Acusado de diversos crimes, Cunha perde o foro privilegiado e, para tentar se preservar, pode acabar revelando informações que muitos querem esconder. Agora, se o ex-deputado falastrão vai realmente colocar a “boca no trombone” é algo que ainda precisaremos aguardar.