A cozinha pode ser descrita como uma panela de pressão. Muitas vezes eu ouvi que cozinha é lugar onde filho chora e mãe não vê. Realmente é uma área de grande pressão, cobrança e estresse. Não é permitido errar! Todo mundo quer ser o melhor, o número um, ganhar as tão sonhadas estrelas do Guia Michelin. Justo! Quem não quer ver seu trabalho reconhecido? Que preço estamos dispostos a pagar por isso?
Uma vez o chef Paul Bocuse definiu o prêmio Michelin como “o único que importa”, tamanha a sua relevância para a gastronomia mundial. O guia premia os restaurantes de todo o mundo com uma, duas ou três estrelas.
Ontem foi a vez da França e a premiação foi marcada pelo luto. O chef Benoît Violier, de 44 anos, um dos mais renomados chefs da gastronomia mundial, eleito o melhor do mundo em dezembro passado e com seu restaurante Hôtel de Ville, na Suíça, agraciado com três estrelas, foi encontrado morto em sua casa. A polícia relatou que ele cometeu suicídio.
A morte de Violier causou enorme comoção entre os colegas de profissão e levantou novamente a questão da pressão sobre os profissionais da cozinha. Ele havia perdido seu mentor da cozinha e seu pai há pouco tempo, e os comentários é que os tempos estavam difíceis para ele –ainda mais com as novas edições de guias gastronômicos.
Eu tinha pouco conhecimento sobre a história de Benoît. O que eu sabia era do seu talento e da sua fama. Ontem descobri que ele era caseiro, discreto e deixa esposa e um filho de apenas 12 anos. Uma pena.
Benoît era um talento gigante e ninguém pode saber ao certo o que o levou a tal ato extremo. A certeza que fica é que, em busca de fama, sucesso e estrelas, muitas pessoas de diferentes áreas profissionais estão abrindo mão de ser quem são para viver em busca de uma realização que nunca é suficiente.
Roberta Sudbrack publicou sábias palavras a respeito: “…basta de tanta lista, basta de tanto prêmio, basta de tanta pressão por ser o melhor! Pra que ser o melhor sempre? É tão mais divertido jogar toda essa energia nos pratos que fazemos, nos ingredientes que manipulamos, na conversa com nosso fornecedores, nosso agricultor, nosso artesãos, nossa equipe. É muito mais divertido tentar ser feliz! Fazer aquilo que se quer, que se acredita. Sem pedir permissão. Já basta a pressão do cansaço, da dor nas pernas, nas costas, da dificuldade de se manter uma equipe disposta e afinada. Dos custos… já basta. Já Basta. Descanse em paz Benoît”.
Que a pressão seja só da panela e que as estrelas do céu importem mais que as da lista de papel.
