Se você acompanha o futebol brasileiro não deve se espantar com a necessidade atlética dos médicos dos clubes brasileiros. Ahn? Entendeu nada? Isso mesmo, com tantas vezes que são requeridos dentro de campos, sendo a maioria utilizada pelos jogadores como artifício para obtenção de tempo, seja para esfriar o jogo ou se manter com a parcial vantagem.
Nessa rodada de fim de semana criou-se a polêmica sobre a devolução ou não da bola após o atendimento médico ao adversário, o famoso fair play. Paulo Bento, treinador do Cruzeiro, pediu aos seus comandados, durante a partida contra o América, para que não devolvessem a bola por alegar que o campeão mineiro estava fazendo “cera” para passar o tempo diante do favorável placar. Além desse episódio, outro caso diferente, mas que também converge para o tema em destaque, foi no domingo, quando torcedores do Grêmio vaiaram veementemente o jogador do próprio clube por ter jogado a bola para lateral para que o adversário caído pudesse receber atendimento médico.
Como já dito, foram situações diferentes, mas que nos alertam para uma realidade no futebol jogado no país tropical: ninguém confia mais no outro. Nem os próprios jogadores que são companheiros de profissão e, em tese, deveriam zelar pela saúde do próximo. Realidade essa que é reflexo de nossa sociedade.
Bom, afastando as suposições de que esteja ou não “forjando” lesões para se beneficiar e atendo somente aos fatos, em média uma partida de futebol no Brasil possui somente 45 a 50 minutos de bola rolando em 90 minutos regulamentados. O resto é de bola parada, como, por exemplo, intervenções arbitrais como faltas, laterais, impedimento etc., e atendimento médico aos jogadores. Sendo esse último o destaque de nossa reflexão. Vale ressaltar que o mínimo “recomendado” pela FIFA é de 60 minutos.
É notório também que vários jogadores caem repetidamente para ludibriar a arbitragem na esperança de ganhar tempo, já que o tempo “desperdiçado” nunca é somado aos acréscimos, fielmente. Então, o que fazer para coibir esse tipo de atitude que despreza a essência do futebol? Nada, apenas confiar no bom senso e na ética de cada jogador, treinador e toda pessoa que faz parte desse meio. Por essas e outras eu, a favor da bola rolando, contra a ludibriagem, voto a favor do treinador Paulo Bento em não devolver a bola, pois o próprio se defende alegando que o juiz pode parar o jogo caso ache necessário. A favor do Maicon pela iniciativa e bom senso (jogador do Grêmio que jogou a bola para fora para atendimento de seu adversário), e, por fim, contra a torcida do Grêmio ao se manifestar contra a atitude de seu jogador, quando a vaia deveria ser direcionada não a quem praticou o fair play, mas, sim, a quem estava caído com intuito de parar o jogo, no caso o jogador do Coritiba.
Mais bola rolando e menos “cai cai”, porque além de ser desrespeitoso ao espetáculo e consequentemente aos espectadores, o preço médio do “espetáculo” tem sido bem salgado, e creio que ninguém vai ao estádio de futebol com anseio de ver mais bola parada que em movimento.